A EDUCAÇÃO DO NEGRO NO BRASIL - FEAT MILTON SANTOS
INTRODUÇÃO
A teoria do espaço dividido detalha os problemas dos países de terceiro mundo e o impacto da modernização tecnológica sobre o espaço no mesmo que é fundamental a base do sistema político/econômico. Estudar a história dos países subdesenvolvidos mostra a especificidade do progresso em relação aos países desenvolvidos seja na organização da economia, da sociedade ou do espaço na urbanização, que se apresenta através de processos combinados.
Seria mais honesto substituir essa aplicação irrefletida de conceitos ocidentais e essa obsessão de comparação com as situações do mundo desenvolvido por uma dimensão mais justa, a histórica, que leve primeiro à compreensão do processo de subdesenvolvimento.
(Santos, 1970, p.18)
1 – RESPOSTA AO DESAFIO
Circuito superior (moderno): Formado por monopólios.
Circuito inferior: Formado por atividades de pequena dimensão (Interessando principalmente as populações mais pobres).
Somente o circuito superior foi objeto de pesquisas sistemáticas, e a análise econômica/geográfica foi confundida durante muito tempo pois confundia o sistema moderno da economia urbana com a cidade toda. Deve-se definir bem cada circuito e suas relações pois a vida urbana é condicionada pelas dimensões qualitativas (qualidade) e quantitativas (quantidade) de cada um deles onde no espaço de relações da cidade possuem duas zonas de influência.
É nessa perspectiva que se deve velar por uma adequada regulação da dialética dos dois circuitos nas cidades e no sistema de cidades. Para isso, os novos instrumentos metodológicos atualmente ausentes vão se impor: estatísticas mais adequadas, estudo dos mercados e análise sistemática do circuito interior.
(Santos, 1970, p.23)
2 – FAVELA E CIRCUITO INFERIOR
É fato que na favela não se reúnem todos os pobres de uma cidade, sendo assim nem todos que vivem nela podem ser definidos pelos mesmos critérios de pobreza. Pois nelas podem conter pessoas com trabalhos ocasionais com pouca remuneração, assalariados e pequenos empresários. A explicação não se encontra exclusivamente na posição dos indivíduos na escala de renda, essa responsabilidade cai em parte numa concepção etnocêntrica (visão preconceituosa formada sobre povos com outras culturas, religiões e etnias.) da cidade, que define as relações não em função das realidades próprias, mas sim em benefício aos padrões colocados pelo mundo ocidental.
Muitos outros fatores devem ser considerados e, em nosso modo de ver, o mais importante consiste, sem dúvida alguma, nos modos de integração e de inserção encontrados pelas camadas pobres de uma cidade diante das condições impostas pela modernização tecnológica. A atração exercida pelos tipos de consumo modernos oferece ao indivíduo bem pouca escolha entre os bens e os serviços que consumirá.
(Santos, 1970, p.75 e 76)
3 – A TIRANIA DA INFORMAÇÃO E DO DINHEIRO E O ATUAL SISTEMA IDEOLÓGICO
Os últimos anos do século XX o mundo tornou-se unificado no que diz respeito as bases para a ação humana mundializada, essa globalização que é perversa. O dinheiro e a informação formam uma dupla tirania, relacionadas entre si formam as bases do sistema ideológico que busca influenciar o caráter das pessoas.
A competitividade, sugerida pela produção e pelo consumo, é a fonte de novos totalitarismos, mais facilmente aceitos graças à confusão dos espíritos que se instala. Tem as mesmas origens a produção, na base mesma da vida social, de uma violência estrutural, facilmente visível nas formas de agir dos Estados, das empresas e dos indivíduos.
(Santos, 2001, p.37)
Entre os fatores constitutivos da globalização, em seu caráter perverso atual, encontram-se a forma como a informação é oferecida à humanidade e a emergência do dinheiro em estado puro como motor da vida econômica e social. São duas violências centrais, alicerces do sistema ideológico que justifica as ações hegemônicas e leva o império das fabulações, a percepções fragmentadas e o discurso único do mundo, base dos novos totalitarismos – isto é, dos globalitarismos – a que estamos assistindo.
(Santos, 2001, p.38)
Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da informação. Conforme já vimos, as novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares.
(Santos, 2001, p.38 e 39)
4 – A POBREZA INCLUIDA
Na contemporaneidade ainda temos em sua maioria soluções ao problema da pobreza tidas como instituições privadas ou assistencialismo e tem uma visão apenas local, não holística. Milton explica em: “Por uma outra globalização” p.20 que “A pobreza era apresentada como um acidente natural ou social.” Sabemos que por mais que teoricamente já ter sido superado essa filosofia “liberal” da modernidade, ainda não se colocou sua já formulada Práxis em pleno funcionamento pois para isso é preciso um centralismo democrático de toda sociedade de acordo com o Movimento Socialista.
A pobreza é tida como doença da civilização e o consumo se coloca como peça fundamental nesse sistema onde “pobres” tem possibilidades de circulação limitada e a informação (limitada) também tem seu papel nas relações sociais. Novos mecanismos e definições onde o ser humano é classificado pela sua capacidade de consumir. Esse processo contrarrevolucionário é colocado em prática pelas elites intelectuais e políticas com a difamação de todo que envolve algo que é revolucionário e mina toda a potência caso seja mudado nossas formas estruturantes.
5 - A PEDAGOGIA DA EXISTÊNCIA
É restrito o número de negros nos espaços das universidades em todo o Brasil, mesmo com a política de cotas, o jovem negro abandona quase sempre a escola para ir trabalhar o dia todo, para ganhar um salário que é mínimo, podendo assim ajudar sua família que sofre, pela forma que foi montada as estruturas de poder e dominação. Sem propriedade privada, sem poder de compra os negros se sentem fracassados e logo desistem dos seus sonhos porque tem que comer hoje, não se tem tempo de fazer planos quando a barriga ronca. No Brasil para começo de conversa deve se fazer reforma agrária e regular as mídias e redes sociais para uma soberania contra guerra hibrida. E caso as big-techs não aceitem, pois o Estado que crie seus próprios aplicativos para atender toda essa demanda e transformar em lucro estatal ao invés de privado. Fortalecimento e expansão do sistema ferroviário para diminuir os custos de transporte e acabar com o monopólio das transportadoras impondo soberania do Estado perante os super-ricos. Taxar grandes heranças também fazem parte do plano de Revolução Reformista Brasileira. Usando de referência à experiência Chinesa, em algumas poucas questões.
(Paiva, 2023 ,III)
Na Unila a dinâmica é diferente, estudantes de dezenas de países da América Latina, Caribe, África dentre outros fazem com que o número de negros estrangeiros seja alto, o que é um ponto positivo. O foco de análise proposto abrange apenas o contexto dos estudantes brasileiros. O projeto da Universidade Federal da Integração Latino-Americana é lindo e sua bibliografia está possibilitando uma possível gênese de novas construções teóricas com uma visão holística, fundindo então o pensamento ocidental com nossos saberes “subalternos” adicionando tudo aquilo que foi negado pelos colonizadores.
(Paiva, 2023, IV)
Esse racismo estrutural e super-estrutural se faz ainda pior quando explicado do ponto de vista de mulheres como bell hooks e Lélia González, que teorizam as problemáticas de forma bastante clara. Como o cotidiano das Intelectuais Negras que são mães solteiras, ou levam uma vida dupla até mesmo tripla, estudando, trabalhando e cuidando dos filhos, enquanto o intelectual homem quando precisa poder se isolar para dedicar-se ao seu trabalho intelectual sem ser julgado pela sociedade, pois homens não são colocados com obrigatoriedade de ajudar no dia a dia com as crianças.
Outro ponto que não pode passar batido é a falta de reconhecimento da mulher negra dentro da academia, isso quando consegue com muito esforço adentrar nessas instituições são vistas com desconfiança. Num local onde os professores são na maioria das vezes brancos. Sofrem assédios sexuais, passam por todos os tipos de violência psicológica seja ela explicita ou micro-agressões. Com a implementação do contrato social pelos teóricos modernos algumas coisas foram ocultadas de forma proposital, a divisão internacional do trabalho coloca a mulher como não-sujeito, sendo assim inferiorizada e tirada a possibilidade de intelectualidade em primeiro momento. Com o passar dos séculos as mulheres começaram a questionar e lutam por direitos iguais, mas para isso não basta dizer que elas devem ter os mesmos direitos. Devemos superar essas formas binarias e maniqueístas de pensamento que são usadas muitas vezes pelas religiões para desviar o foco do que realmente importa e manter as massas alienadas.
É preciso romper com toda e qualquer manifestação de caráter contra-revolucionário, seja ela qual for, também é preciso saber analisar de forma crítica todas as problemáticas do cotidiano, onde por parte dos negros e indígenas já é sofrida na pele todos os dias, brancos devem abdicar de seus privilégios para além das redes sociais. Seguindo o paradigma para uma equidade para todos os brasileiros.
Necessário trazer todo esse debate e adequar as análises e conceitos para o nosso tempo, para entender melhor as causas e efeitos de toda essa estrutura que nos envolve e retira toda a possibilidade de um internacionalismo.
A consciência da diferença pode conduzir simplesmente à defesa individualista do próprio interesse, sem alcançar a defesa de um sistema alternativo de ideias e de vida. De um ponto de vista das ideias, a questão central reside no encontro do caminho que vai do imediatismo às visões finalísticas; e de um ponto de vista da ação, o problema é ultrapassar as soluções imediatistas (por exemplo, eleitoralismos interesseiros e apenas provisoriamente eficazes) e alcançar a busca política genuína e constitucional de remédios estruturais e duradouros.
(Milton, 2001, p.116)
BIBLIOGRAFIA:
SANTOS, Milton. O espaço dividido. EdUSP, São Paulo. 2004
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Ed Record. Rio de Janeiro. 2001
PAIVA, Eduardo. República Democrática Popular do Brasil. Blogger. Foz do Iguaçu. 2023
https://edu10logos.blogspot.com/2023/09/republica-democratica-popular-do-brasil_29.html
NASCIMENTO, Julio. Educação para transformar as pessoas do mundo, Geografia para mudar o mundo das pessoas: Aproximações teoricas entre Paulo Freire e Milton Santos. Revista Geo Saberes, Fortaleza. 2010
PITANO, Sandro. Paulo Freire e a Geografia: Diálogos com Milton Santos. Geografia, Ensino e Pesquisa, UFPEL. Pelotas. 2017
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