Sobre a Virtude - LIVRO II Ética a Nicómaco - ARISTÓTELES
Existem duas espécies de Virtudes
Intelectual
Moral
Intelectual: Gera e cresce graças ao Ensino (por isso requer experiência e tempo)
Moral: É adquirida em resultado do hábito.
Evidencia-se que nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza. E não é por natureza e nem contrariando a mesma que as virtudes nascem em nós. Somos adaptados por natureza a recebê-las e nos tornamos perfeitos pelo hábito.
Todas as coisas que nos vêm por natureza, primeiro adquirimos em potência e mais tarde exteriorizamos os atos, é evidente no caso dos sentidos onde os possuímos antes de usá-los.
Com as virtudes é exatamente o oposto: Adquirimos pelo exercício, como também sucede com as artes.
Com efeito, as coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo; por exemplo, os homens tornam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tangendo esse instrumento. Da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura, etc.
(Aristóteles, 1991, II, 1, p.1 e 2)
Estado: Os legisladores tornam bons os cidadãos por meio do hábito que lhes introduzem, porém existem boas e más constituições.
Pelas mesmas causas se geram e destroem todas as Virtudes, assim como existem músicos bons e ruins. Se não fosse assim não haveria necessidade de mestres e todos os “homens” teriam nascidos bons ou maus em seu ofício.
A partir dos atos que praticamos em nossas relações nos tornamos justos ou injustos, pelo que fazemos em presença do perigo e pelo hábito do medo ou ousadia, nos tornamos valentes ou covardes. O mesmo se pode dizer dos apetites, da emoção e da ira. Uns se tornam temperantes (equilibrados) e calmos, outros temperantes e irascíveis, portando-se de um modo ou de outro em igualdade de circunstâncias.
É preciso, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porquanto da sua diferença se pode aquilatar a diferença de caracteres, e não é coisa de somenos que desde a nossa juventude nos habituemos desta ou daquela maneira. Tem, pelo contrário, imensa importância, ou melhor: tudo depende disso.
(Aristóteles, 1991, II, 1, p. 2)
Não investigamos para saber o que é Virtude, mas como nos tornamos bons, do contrário nosso estudo seria inútil. Devemos examinar a natureza dos atos e como devemos praticá-los.
A temperança e a coragem são destruídas pelo excesso e pela falta, e preservadas pela mediania.
Falta (exemplo: falta de força), exercício
Excesso (Exemplo: Saúde), alimento
Temperança: Moderação
Mediania: Equilíbrio
Sinais indicativos de caráter, o prazer ou a dor que acompanham os atos. É por causa do prazer que praticamos más ações, por causa da dor que abstemos de ações nobres.
Por isso deveríamos ser educados de uma determinada maneira desde a nossa juventude, como diz Platão, a fim de nos deleitarmos e de sofrermos com as coisas que nos devem causar deleite ou sofrimento, pois essa é a educação certa.
(Aristóteles, 1991, II, 3, p. 4)
Cada ação é acompanhada de prazer ou dor
Castigo é uma espécie de cura, e é pela natureza das curas o efetuarem pelos contrários
Essa espécie de excelência tende a fazer o que é melhor com respeito aos prazeres e as dores, e que o vício faz o contrário.
3 OBJETIVOS DE ESCOLHA
Nobre, vantajoso, agradável e seus contrários.
3 DE REJEIÇÃO
Vil, prejudicial e o doloroso.
A respeito de todos eles o homem bom tende a agir certo e o homem mau a agir errado, especialmente no que toca o prazer. O prazer e a dor que sentimos tem efeito não pequeno sobre nossas ações e os atos de onde surgirão a Virtude são os mesmos em que ela se atualiza.
Também é mister que o agente se encontre em determinada condição ao praticá-los: em primeiro lugar deve ter conhecimento do que faz; em segundo, deve escolher os atos, e escolhê-los por eles mesmos; e em terceiro, sua ação deve proceder de um caráter firme e imutável.
(Aristóteles, 1991, II, 4, p. 6)
As mesmas que resultas da prática frequente de atos justos e temperantes são numa palavra, tudo. Sem prática ninguém teria sequer a possibilidade de tornar-se bom e a maioria das pessoas se escondem na teoria e pensam que estão sendo Filósofos e se tornarão bons dessa maneira.
O QUE É A VIRTUDE?
Na alma se encontram 3 espécies de coisas:
Paixões
Faculdades
Disposições de caráter
Paixões: apetites, cólera, medo, audácia, inveja, alegria, amizade, ódio, desejo, emulação, compaixão e em geral os sentimentos que são acompanhados de prazer ou dor. Através das faculdades que somos capazes de sentir tudo isso.
Nem virtudes nem vícios são paixões, pois ninguém nos clama bons ou maus devidos às nossas paixões, e sim devido a nossas virtudes e vícios. Pelas Virtudes e vícios somos louvados e censurados e paixões não são não são faculdades pois ninguém louva ou censura por essa capacidade. Toda Virtude ou excelência faz com que essa coisa seja bem desempenhada.
Em tudo que é contínuo e divisível pode-se tomar mais, menos ou uma quantidade igual, e isso quer em termos da própria coisa, quer relativamente a nós; e o igual é um meio-termo entre o excesso e a falta.
(Aristóteles, 1991, II, 6, p. 9)
Meio-termo no objeto é entendido como aquilo que é intermediário de ambos os extremos.
É possível errar de muitos modos (pois o mal pertence a classe do ilimitado e o bem do limitado) como supuseram os Pitagóricos, mas só se há um modo de acertar.
Fácil errar a mira, difícil acertar o alvo.
Excesso e a falta são características do vício e da mediania da Virtude.
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta; pois que, enquanto os vícios ou vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões, a virtude encontra e escolhe o meio-termo. E assim, no que toca à sua substância e à definição que lhe estabelece a essência, a virtude é uma mediania; com referência ao sumo bem e ao mais justo, é, porém, um extremo.
(Aristóteles, 1991, II, 6, p. 10)
Mas nem toda paixão e ação admite meio-termo, pois alguns tem nomes que já de sí mesmos implicam maldade, como o despeito, despudor, inveja e no campo das ações, o adultério, furto e assassinato.
Não devemos, porém, contentar-nos com esta exposição geral; é mister aplicá-la também aos fatos individuais. Com efeito, das proposições relativas à conduta, as universais são mais vazias, mas os particulares são mais verdadeiros, porquanto a conduta versa sobre casos individuais e nossas proposições devem harmonizar-se com os fatos nesses casos.
(Aristóteles, 1991, II, 7, p. 11)
Fica então esclarecido que a Virtude Moral é um meio-termo entre dois vícios, uns que envolvem excesso e outro deficiência, pois sua natureza é visar à mediania nas paixões e nos atos.
Não é fácil ser bom, pois em todas as coisas é difícil encontrar meio-termo.
Fica claro que em todas as coisas o meio-termo é digno de ser louvado, mas que as vezes devemos inclinar-nos para o excesso e outras vezes para a deficiência. Efetivamente essa é a maneira mais fácil de atingir o meio-termo e o que é certo.
BIBLIOGRAFIA:
ARISTOTELES, Ética a Nicómaco. São Paulo. Nova Cultural. 1991
Comentários
Postar um comentário