GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
FRONTEIRA: A DEGRADAÇÃO DO OUTRO NOS CONFINS DO HUMANO
JOSÉ DE SOUZA MARTINS
A fronteira, a frente de expansão da sociedade nacional sobre territórios ocupados por povos indígenas, é um cenário altamente conflitivo de humanidades que não forjam no seu encontro o homem e o humano idílicos da tradição filosófica e das aspirações dos humanistas. A fronteira é sobre tudo, no que se refere aos diferentes grupos chamados civilizados se situam “do lado de cá”, um cenário de intolerância, ambição e morte. (Martins,2009, p.9)
1 – A CAPTURA DO OUTRO: O RAPTO DE MULHERES E CRIANÇAS NAS FRONTEIRAS DO BRASIL
- Maioria dos raptados (mulheres e crianças)
- Vingança (antropofagia)
- Mulheres brancas se tornavam parte da tribo
- Mulher indígena (marginalizada / prostituição)
- Jovem homem branco (reposição do clã).
- Homem indígena na maioria das vezes era morto ou se tornava servo (genocídio)
Há um certo número de informações sobre raptos na bibliografia etnológica que utilizo, mas rigorosamente falando não há tentativa de perceber o rapto como processo que se situa no limite de sociedades diversas e até opostas e que por isso mesmo é definidor de uma situação social inteiramente nova, produzida pelo contato interétnico ou entre grupos étnicos cem conflito ou antagônicos. Enfim o rapto é mais do que ele próprio; é sobretudo um documento ou, mais apropriadamente, expressão do que se poderia definir como situação social documental.
(Martins, 2009, p.31)
Tanto entre brancos como entre índios, um dos aspectos dramáticos da expansão da fronteira parecia manifestar-se nos raptos de parte a parte e tudo indicava que era por meio deles que o imaginário da frente de expansão melhor definia as singularidades da situação de fronteira.
(Martins, 2009, p.30)
2 – A REPRODUÇÃO DO CAPITAL NA FRENTE PIONEIRA E O RENASCIMENTO DA ESCRAVIDÃO
Em face dessas preocupações, a modalidade de ocupação proposta era contraditória: a da agropecuária, uma atividade econômica que dispensa mão-de-obra e esvazia territórios. No limite, previa-se a criação de apenas cerca de quarenta mil empregos em toda aquela ampla região. Sem contar que, em consequência da modalidade de ocupação proposta, tribos indígenas sofreriam, como sofreram, pesadas reduções demográficas no contato com o branco e suas enfermidades. Algumas tribos perderam nesses poucos anos até dois terços de sua população. Sem contar, também, que milhares de camponeses teriam que ser expulsos de suas terras de trabalho, como de fato o foram, para que nelas fossem abertas grandes pastagens. Muitos deles acabaram migrando para as cidades da própria região, para viver na miséria da subocupação e das favelas. As novas atividades econômicas instauraram o grande latifúndio moderno, vinculado a poderosos conglomerados econômicos nacionais e estrangeiros.
(Martins, 2009, p. 75)
CARACTERÍSTICAS
- Servidão por dívida (seringais, garimpo, latifúndios)
- Violência por parte dos pistoleiros
- Salário muito baixo
- Presos na fazenda
- Trabalhos temporários
- Queimadas feitas pouco antes dos períodos de chuvas
3 – A CRIANÇA NA LUTA PELA TERRA E PELA VIDA
- Adulto no corpo de criança
- A criança como testemunha
- Família de muda para buscar condições melhores
- Ambiente impróprio
- Começar relações sociais novas do zero
4- O tempo da fronteira: retorno à controvérsia sobre o tempo histórico da frente de expansão e da frente pioneira
Capitalismo acelera o tempo para o capital poder girar de forma mais rápida, sendo assim obtendo mais acumulação em menos tempo
. - Frente de expansão (Natural) Mercado de trocas, mudança para renovação do solo
- Frente pioneira (Conglomerados) Mercado imobiliário e expansão agropecuária)
O ENSINO SUPERIOR E O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO URBANA TRANSFRONTEIRIÇA DO IGUAÇU
Airton leitzke
A aglomeração urbana transfronteiriça do Iguaçu (Auti), formada pelas cidades de Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do Iguaçu, no estado do Paraná (Brasil), Ciudad del Este, Minga Guazú, Hernandarias e Presidente Franco, no departamento de Alto Paraná (Paraguai), e Puerto Iguazú, no departamento Iguazú, província de Misiones (Argentina), é amplamente conhecida pelo turismo, pela geração de energia por uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo – a Itaipu Binacional – e pelo comércio de produtos importados na zona franca ali existente.
(...)
(Leitzke, 2022, p.94) "Contudo, em anos recentes, a busca por cursos de ensino superior tem movimentado milhares de jovens de todo o território nacional e de países da América Latina e do Caribe em direção à Auti."
PROBLEMAS:
- Comercio de produtos importados
- Contrabando
- Tráfico de drogas
- Criminalidade
- Falta de segurança
2 – A QUESTÃO TRANSFRONTEIRIÇA E O PROCESSO DE TRANSFRONTEIRIZAÇÃO
- Fronteira (Lugar de alteridade)
- Diferença de fronteira e limite Fronteira direcionada pra fora
- Limite direcionado pra dentro.
- Relações, trocas e fluxos entre cidades fronteiriças
- Articulação entre o local e o internacional
- Utilização de serviços
- Redes de negócios
- Entidades administrativas conjuntas
3 – ELEMENTOS PARA A COMPREENSÃO DA AGLOMERAÇÃO URBANA TRANSFRONTEIRIÇA DO IGUAÇU
- Polo universitário (público e privado) Crescente oferta
- Conurbação (união de duas ou mais cidades)
- Turismo - Presença da Itaipu binacional
4 – O ENSINO SUPERIOR E O PROCESSO DE TRANSFRONTEIRIZAÇÃO NA AUTI
Essas mesmas atividades também são responsáveis pelo processo de transfronteirização e pela própria formação do que se afirma ser uma aglomeração urbana transfronteiriça, alcançando níveis de transformação socioespaciais que são próprios do processo de metropolização, entendido como o estágio mais avançado da urbanização.
(Leitzke. 2022, p.103)
A UNILA A Unila é uma instituição de ensino que figura entre as mais recentes universidades federais brasileiras, tendo papel transformador na dinâmica da Auti a partir de 2010, ano de sua criação, junto com as instituições de ensino do Paraguai. O processo de construção da Unila estava inserido em um contexto histórico e político caracterizado, entre outros fatores, pela expansão do ensino superior público, realizada por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras (Reuni) do governo federal. No âmbito político, a Unila surge da proposta de projeção do governo brasileiro no chamado eixo Sul-Sul, que privilegia as relações externas de integração do Brasil com países emergentes – no caso dessa instituição, com países da América Latina. Segundo dados da Unila (2022), a instituição possui 5.889 discentes de graduação em 29 cursos, sendo 1.833 não brasileiros, vindos de 32 países diferentes, e 888 estudantes de pós-graduação, totalizando 6.777 discentes. Além dos discentes, integram a comunidade universitária da Unila 514 técnicos administrativos e 420 docentes.
(Leitzke, 2022, p.105 e 106)
É restrito o número de negros nos espaços das universidades em todo o Brasil, mesmo com a política de cotas, o jovem negro abandona quase sempre a escola para ir trabalhar o dia todo, para ganhar um salário que é mínimo, podendo assim ajudar sua família que sofre, pela forma que foi montada as estruturas de poder e dominação. Sem propriedade privada, sem poder de compra os negros se sentem fracassados e logo desistem dos seus sonhos porque tem que comer hoje, não se tem tempo de fazer planos quando a barriga ronca.
Na Unila a dinâmica é diferente, estudantes de dezenas de países da América Latina, Caribe, África dentre outros fazem com que o número de negros estrangeiros seja alto, o que é um ponto positivo. O foco de análise proposto abrange apenas o contexto dos estudantes brasileiros.
O projeto da Universidade Federal da Integração Latino-Americana é lindo e sua bibliografia possibilita o surgimento de novas construções teóricas e práticas com uma visão holística, fundindo então o pensamento ocidental com nossos saberes “subalternos” adicionando tudo aquilo que foi negado pelos colonizadores.
(Paiva, 2022, p.3)
A PANDEMIA DO COVID 19
- Houve muitas desistências
- Número atual menor do que antes da pandemia
- Problema foi solucionado quando foi permitido aulas presenciais
IMPACTOS NAS CIDADES DA FRONTEIRA
Na Facisa-UNE, foram citados a dinamização do mercado de aluguéis e da construção civil de moradias estudantis e o movimento fronteiriço, aparecendo, inclusive, a menção à ‘cidade universitária’: “o impacto econômico é importante, desenvolvimento, aluguéis, combustível, gastronomia, muitas casas foram construídas para aluguel, um movimento importante na parte cultural, o movimento da fronteira, os gastos aumentaram, virou uma cidade universitária” (pessoa B).
(Leitzke, 2022, p.114)
PUBLICO ALVO, VARIAÇÃO CAMBIAL E EGRESSOS
Na Upap, a pessoa D afirmou que muitos dos egressos estão trabalhando em postos de saúde, alguns como diretores, inclusive, “[...] também há muitas pessoas que estão trabalhando com indígenas naquela área, alunos de pós-graduação. Tenho alunos que são filhos de médicos que vão lá para atender os consultórios dos pais”, dizendo ainda que há gente com muito dinheiro estudando na instituição. Além do apresentado até aqui, durante as visitas técnicas também foi comentado sobre alguns casos de estudantes ligados ao tráfico de drogas, inclusive integrantes do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC), e também foragidos da justiça brasileira, acarretando sua expulsão. Em algumas das IES há, inclusive, a colaboração de advogados nos setores de bem-estar estudantil, que auxiliam na descoberta e na expulsão desses estudantes.
(Leitzke, 2022, p.115)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As cidades de Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Ciudad del Este, Hernandarias, Presidente Franco, Minga Guazú e Puerto Iguazú conformam a maior aglomeração urbana da faixa de fronteira brasileira, apresentando intensas relações entre as cidades – em diversas dimensões –, a ponto de ser tratada como transfronteiriça.
(Leitzke,2022, p.122)
BIBLIOGRAFIA
MARTINS, José de Souza. Fronteira: A degradação do outro nos confins do humano. Ed contexto. São Paulo. 2009
LEITZKE, Airton. O ensino superior e o processo de transfronteirização na aglomeração urbana transfronteiriça do iguaçu. UFPR. 2022
PAIVA, Eduardo de Souza. Racismo e sexismo no Brasil. Blogger. Foz do Iguaçu. 2023 https://edu10logos.blogspot.com/2023/09/racismo-e-sexismo-no-brasil.html
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