REPÚBLICA DEMOCRÁTICA POPULAR DO BRASIL
MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA, Apresentação à edição brasileira Anníbal Fernandes
A “moderna” globalização é o velho e surrado imperialismo; a flexibilização das normas, a derrocada do Direito Social penosamente conquistado pelos trabalhadores. Desregulação, idem. O desemprego, o semi-emprego, a volta ao trabalho em regime de servidão e escravidão (inclusive da criança), eis a “nova” realidade, ou seja, velhos termos “reformados”, como um paletó roto e remendado com panos novos, Assim, o diagnóstico e prognóstico de Karl Marx e Friedrich Engels são plenamente atuais (Maktub! – estava [está] escrito!) A alternativa humanista e solidária consiste em reorganizar o movimento operário e comunista, dando realidade à Revolução proposta no Manifesto Comunista. Quem tiver a melhor receita, favor ofertá-la...
(Marx & Engels,1948, p.11 e 12)
INTRODUÇÃO
Uma civilização que se revela incapaz de resolver os problemas que o seu funcionamento suscita, é uma civilização decadente. Uma civilização que prefere fechar os olhos aos seus problemas mais crucias, é uma civilização enferma. Uma civilização que trapaceia com seus princípios, é uma civilização moribunda.
(Césaire,1978, I, p13)
Ao longo da história, grandes estudiosos com enorme relevância, de forma dialética sobrepõe suas hipóteses com uma análise crítica. Caçadores coletores passavam por todo tipo de dificuldade em níveis que, para um ser humano contemporâneo seria impossível imaginar viver na prática, e mesmo assim tinham todas as suas necessidades atendidas. Todos os caminhos e descobertas nos levam a uma crítica à economia-política da modernidade.
O sistema industrial e o mercado instituem a pobreza, e deve-se afastar dos antigos paradigmas que tem objetivo de fundamentar todas as respostas a respeito de nossa espécie ligando a coisas inatas, ou seja, algo que é inteligível, como no caso da religião, outra característica dos colonizadores era de explicar através da ciência seus motivos de escravizar um semelhante, colocando em pratica o conceito de “raça” e gênero, colocando a mulher e o negro com papéis inferiores na divisão internacional do trabalho e a classificação da sociedade em classes.
Os povos mais primitivos do mundo têm poucas posses, mas não são pobres. A pobreza não consiste em uma determinada quantidade reduzida de bens, nem é apenas uma relação entre meio e fins; acima de tudo, é uma relação entre pessoas. A pobreza é um status social. Como tal é uma invenção da civilização.
(Sahlins, p146)
DIALÉTICA DO ESCLARESCIMENTO
Pouco se fala sobre a forma como somos manipulados por todo tipo de publicidade, seja ela disfarçada ou não, que nos induz a uma falsa liberdade, o oligopólio se formou e persiste com esse modelo ultrapassado de economia da modernidade que já foi superada dialeticamente há um bom tempo, mas que por motivos óbvios é mantido nas bases das formas sociais estruturantes, colocando o progresso acima da Ética.
A arte é estereotipada e racista, existe de forma interseccionada com os conceitos do patriarcado como gênero, raça e classe, o imperialismo contemporâneo usa guerra hibrida para atacar todos, depor presidentes progressistas que buscam soberania nacional. O meio ambiente pede socorro com as indústrias de petróleo, química, eletricidade, aço, madeira e outras que estão acabando com o planeta de forma rápida usando o paradigma de lucro acima da Ética, que é fundamental para o triunfo do modelo hegemônico neoliberal.
O mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro da indústria cultural. A velha experiência do expectador de cinema, que percebe a rua como um prolongamento do filme que acabou de ver, porque este pretende ele próprio reproduzir rigorosamente o mundo da percepção quotidiana, tornou se a norma da produção.
(Adorno & Horkheimer p.61)
RACISMO E SEXISMO NO BRASIL
O conceito de “raça” serve apenas para estabelecer classificações, primeiro foi usada para animais e plantas, depois emergiu adaptada para diferenciar seres humanos com culturas e etnias diferentes, colocando o europeu no papel de “homem universal” como explica o professor Silvio de Almeida em sua obra Racismo Estrutural (Almeida, p.18). Depois de mapeado todo esse mecanismo de uso desse conceito, devemos abandonar e reprimir o uso dessa e de tantas outras narrativas dos colonizadores que hoje mina toda luta que vem sendo colocada em pauta para um melhor entendimento das formas sociais estruturantes que foram impostas, primeiro tentando fundamentar através da ciência e religião a “inferioridade intelectual” dos negros (como seres sem alma), mulheres e indígenas em relação ao branco europeu, também foi jogada a culpa da escravidão nos próprios negros, com frases como: “Os próprios negros vendiam uns aos outros”, que não passa de uma falta de conhecimento ou puro cinismo, sendo que foi criado uma demanda por parte dos europeus fazendo assim com que os africanos vendessem em primeiro momento seus excedentes de prisioneiros de guerra, fazendo assim do ser humano negro um produto, e a partir desse momento em que o humano se torna mercadoria, tudo é mercadoria.
É nesse contexto que a raça emerge como um conceito central para que a aparente contradição entre a universalidade da razão e o ciclo de morte e destruição do colonialismo e da escravidão possam operar simultaneamente como fundamentos irremovíveis da sociedade contemporânea. Assim, a classificação de seres humanos serviria, mais do que para o conhecimento filosófico, como uma tecnologia do colonialismo europeu para a submissão e destruição de populações das Américas, da África, da Ásia e da Oceania.
(Almeida,2019, I, P.20)
(Fanon,1956, p.36) “Contudo, esse elemento cultural preciso não se enquistou. O racismo não pode esclerosar-se. Teve que renovar, se matizar, de mudar de fisionomia, teve que sofrer a sorte do conjunto cultural que informava.”
(West, 1993, V, 96) “O problema urgente da pobreza dos negros deve-se principalmente á distribuição de riqueza, poder e renda – distribuição esta que sofreu influência do sistema racial de castas, que até duas décadas atrás negava oportunidade á maioria dos negros “qualificados”.”
Desde a segunda guerra mundial os eua tentaram e tentam de todas as formas se afastar na frente da plateia apenas, da estética nazista e fazer parecer ser um opositor desse pensamento neofascista, uma mentira que a mídia e os propagandistas do imperialismo sustentam até hoje. Incontáveis nazistas fugitivos de guerra pouco tempo depois foram trabalhar para o império norte americano dando assim continuidade nos seus terríveis projetos de guerra e caos.
(González,2021, p.72) “Agora, em face da resistência dos colonizados, a violência assumirá novos contornos, mais sofisticados, chegando às vezes, a n não aparecer violência, mas verdadeira superioridade”
É restrito o número de negros nos espaços das universidades em todo o Brasil, mesmo com a política de cotas, o jovem negro abandona quase sempre a escola para ir trabalhar o dia todo, para ganhar um salário que é mínimo, podendo assim ajudar sua família que sofre, pela forma que foi montada as estruturas de poder e dominação. Sem propriedade privada, sem poder de compra os negros se sentem fracassados e logo desistem dos seus sonhos porque tem que comer hoje, não se tem tempo de fazer planos quando a barriga ronca. No Brasil para começo de conversa deve se fazer reforma agrária e regular as mídias e redes sociais para uma soberania contra guerra hibrida. E caso as big-techs não aceitem, pois o Estado que crie seus próprios aplicativos para atender toda essa demanda e transformar em lucro estatal ao invés de privado. Fortalecimento e expansão do sistema ferroviário para diminuir os custos de transporte e acabar com o monopólio das transportadoras impondo soberania do Estado perante aos super-ricos. Taxar grandes heranças também fazem parte do plano de Revolução Reformista Brasileira. Usando de referência à experiência Chinesa, em algumas poucas questões.
Na Unila a dinâmica é diferente, estudantes de dezenas de países da América Latina, Caribe, África dentre outros fazem com que o número de negros estrangeiros seja alto, o que é um ponto positivo. O foco de análise proposto abrange apenas o contexto dos estudantes brasileiros. O projeto da Universidade Federal da Integração Latino-Americana é lindo e sua bibliografia está possibilitando uma possível gênese de novas construções teóricas com uma visão holística, fundindo então o pensamento ocidental com nossos saberes “subalternos” adicionando tudo aquilo que foi negado pelos colonizadores.
Em Foz do Iguaçu, uma cidade com uma fronteira com a Argentina e Paraguai, em um estado localizado, mas ao Sul do país, um local perfeito para o surgimento de todas essas contradições, visto que do Paraná pra baixo o processo de colonização foi inicialmente diferente, resultando em um número maior de “brancos” nessa região. E coincidentemente, essa região tem em sua maioria ideólogos e propagandistas das ideias neo-fascistas que ganham status e adentram no sistema público brasileiro.
Esse racismo estrutural e super-estrutural se faz ainda pior quando explicado do ponto de vista de mulheres como bell hooks e Lélia González, que teorizam as problemáticas de forma bastante clara. Como o cotidiano das Intelectuais Negras que são mães solteiras, ou levam uma vida dupla até mesmo tripla, estudando, trabalhando e cuidando dos filhos, enquanto o intelectual homem quando precisa pode se isolar para dedicar-se ao seu trabalho intelectual sem ser julgado pela sociedade, pois homens não são colocados com obrigatoriedade de ajudar no dia a dia com as crianças.
Outro ponto que não pode passar batido é a falta de reconhecimento da mulher negra dentro da academia, isso quando consegue com muito esforço adentrar nessas instituições são vistas com desconfiança. Num local onde os professores são na maioria das vezes brancos. Sofrem assédios sexuais, passam por todos os tipos de violência psicológica seja ela explicita ou micro-agressões. Com a implementação do contrato social pelos teóricos modernos algumas coisas foram ocultadas de forma proposital, a divisão internacional do trabalho coloca a mulher como não-sujeito, sendo assim inferiorizada e tirada a possibilidade de intelectualidade em primeiro momento. Com o passar dos séculos as mulheres começaram a questionar e lutam por direitos iguais, mas para isso não basta dizer que elas devem ter os mesmos direitos. Devemos superar essas formas binarias e maniqueístas de pensamento que são usadas muitas vez pelas religiões para desviar o foco do que realmente importa e manter as massas alienadas.
É preciso romper com toda e qualquer manifestação de caráter contra-revolucionário, seja ela qual for, também é preciso saber analisar de forma crítica todas as problemáticas do cotidiano, onde por parte dos negros e indígenas já é sofrida na pele todos os dias, brancos devem abdicar de seus privilégios para além das redes sociais. Seguindo o paradigma para uma equidade para todos os brasileiros.
Necessário trazer todo esse debate e adequar as análises e conceitos para o nosso tempo, para entender melhor as causas e efeitos de toda essa estrutura que nos envolve e retira toda a possibilidade de um internacionalismo.
Na teoria todos sabem que latinos não são considerados brancos para os euros/americanos, mas na prática, os “brancos” brasileiros recebem seu salário psicológico que é seu “poder” de acesso livre e sua gama de mínimos privilégios, se sentem superiores, tem medo do império e não querem abdicar de seus privilégios enquanto pertencente da branquitude no nosso país,
Seja por ingenuidade ou propositalmente, isso deve acabar, pois a nossa sociedade ainda vive uma segregação onde os pretos, pardos e indígenas são deixados de lado pelos supostos brancos, pois não se relacionam, a não ser que seja na condição de servir, e isso não se enquadra apenas para a classe média alta (pequena-burguesia), mas também grande parte do proletariado que abastece seu carro no posto onde os frentistas são negros, os funcionários de redes de supermercado em sua maioria. Os negros estão por todos os lados, mas na universidade isso ainda não se reflete, e a universidade é constituída de pessoas “brancas” que usam e abusam da sua brancura ou suas posições de classes para se beneficiar, e com isso todo esforço para atingir os objetivos de vida são infinitamente mais fáceis do que para os negros em geral.
(González, 2021, p.68) “Nesse contexto, todos os brasileiros (e não apenas pretos e pardos) são ladinos-amefricanos.”
O essencial não são todos esses escrúpulos, o “moralismo” que revelam, ou a hipocrisia que neles podemos vislumbrar, mas sim a necessidade reconhecida de que é preciso superá-los. Deve-se falar de sexo, e falar publicamente, de uma maneira que que não seja ordenada em função de demarcação entre lícito e ilícito, mesmo se o locutor preservar para si a distinção (é para mostrá-lo que servem essas declarações solenes e liminares); cumpre falar do sexo como de uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar, mas gerir, inserir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar sobre um padrão ótimo. O sexo não se julga apenas, administra-se.
(Focault,2022, p.27)
Conclusão
Desde o início da colonização foram criados diversos mecanismo a partir de conceitos diversos e que interseccionados formam as bases de nossa estrutura (Estado) e superestrutura (Cultura). A dominação e exploração tomam novas formas, discretas as vezes, e sempre disfarçadas de democracia.
Hoje com todas as cartas na mesa é preciso mudar as regras do jogo, se a revolução será reformista o Estado burguês deve ser extinto revendo uma por uma suas leis, pois com o passar do tempo a sociedade muda e devemos acompanhar as novas teorizações e respeitar todas as particularidades. Os movimentos sociais e sindicatos aliados ao feminismo e o movimento negro formam a vanguarda da revolução, juntamente com o socialismo científico.
Agora com o quebra-cabeça montado e as peças posicionadas não há mais tempo a perder. Proponho que seja inaugurado um novo período da Filosofia chamado eco contemporaneidade. Usufruindo de tudo que há de melhor da modernidade e tirando fora toda sujeira que é imposta de forma cruel a todos nós do sul global.
Provavelmente os tempos em que os frutos eram de todos e a terra de ninguém jamais voltarão. Depois de criada a propriedade privada, a verdadeira maçã da árvore do bem e do mal, o ser humano embarcou em um caminho sem volta. E, além de não ter volta, não tem também destino.
Seduzidos por uma montanha crescente de desejos, embarcamos numa fábula que nos promete, exatamente como naquela bíblica, que um dia seremos também Deus. Venceremos a fome, o cansaço, as doenças, a morte e a tristeza. É nisso que acreditamos e em torno disso que gira toda uma economia. Tão hipnotizados estamos por essa crença que somos incapazes de ver que, quanto mais caminhamos nessa direção, mais longe parecemos estar de nosso destino. Aquilo que nos sacia – as necessidades – é cada vez mais escasso, e aquilo que nos enfeitiça e destrói – os desejos -, cada vez mais farto.
(Moreira,2020, p.79)
As relações capitalistas de produção e de troca e a lei do valor são dominantes no mundo. Nenhuma engenharia social alternativa poderá ir além dos limites impostos pelo metamodo de produção. Porém, o sistema permite a existência tanto de projetos nacionais quanto de quanto de formações econômico-sociais não capitalistas. A nosso ver, o socialismo somente não desapareceu enquanto possibilidade com o fim da União Soviética, como se mantem como alternativa, ainda que imatura, sob a forma de uma nova classe de formações econômico-sociais que surge no fim da década de 1970: O socialismo de mercado.
Essa nova classe é constituída por três países, e todos alcançaram grande sucesso em termos de desenvolvimento econômico e humano nas últimas quatro décadas: China, Vietnã e Laos. Diferentemente de outras formações econômico-sociais orientadas para o socialismo (como Coreia do Norte e Cuba), todos os três adotaram um modelo socialista de mercado que, embora não isento de múltiplas deficiências e contradições, provou-se internamente consistente , sustentável e eficaz para o desenvolvimento de forças produtivas.
(Jabbour, 2021, p.243)
BIBLIOGRAFIA
MARX E ENGELS. Manifesto do Partido Comunista, ed Edipro, São Paulo, 2015
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o Colonialismo, editora Sá da Costa, Lisboa, 1977
SAHLINS, Marshall. A Sociedade afluente original. In Cultura na prática, ed UFRJ, 2004
ADORNO E HORKHEIMER. Dialética do Esclarecimento, Escola de Frankfurt, 1947
ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural, Feminismos Plurais, editora Jandaíra, 2019
FANON, Frantz. Em defesa da Revolução Africana, Racismo e Cultura. Editora Terceiro Mundo, 1964
WEST, Cornel. Questão de Raça. Companhia de Bolso, São Paulo, 2021
GONZÁLEZ, Lélia, Racismo e Sexismo na Cultura brasileira. Revista ciências Sociais Hoje, Rio de Janeiro, 1984
FOCAULT, Michel. História da Sexualidade Vol I. ed Paz e Terra, São Paulo, 2022
MOREIRA, Eduardo. Economia do desejo – A Farsa da Tese neoliberal. Ed Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 2020
JABBOUR, Elias. China O Socialismo do século XXI, ed Boitempo, São Paulo, 2021
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