DO BELO MUSICAL – EDUARD HANSLICK



 

A proposta deste trabalho é poder expor de forma clara os argumentos do autor sobre os conceitos de belo na música instrumental, poesia, arte em geral e suas finalidades, além de explicitar a ligação entre os sentimentos e a música. 

 

Basta que eu consiga trazer para o campo de batalha vitoriosos aríetes contra a apodrecida estética do sentimento e aprontar alguns alicerces para a futura reconstrução 

(Hanslick. Prefácio) 

 

Hanslick fala sobre a revolução da ciência que busca através dos métodos explorar o belo nos seus elementos puros e que cada arte deve ser conhecida a partir de suas próprias especificidades e regras que a determinam. A crítica e as investigações devem ser voltadas ao objeto belo e não ao sujeito que sente.  

A arte sonora deve se apropriar do ponto de vista científico pois ficou para trás em relação a outras artes. O belo musical não deve ser tratado como a impressão individual. 

 

Passou o tempo dos sistemas estéticos que abordavam o belo apenas em relação com as "sensações"por ele suscitadas. O impulso para o conhecimento objectivo das coisas, tanto quanto à inquirição humana é concedido, devia abalar um método que partia da sensação subjectiva para, após um passeio pela periferia do fenómeno investigado, retornar mais uma vez à sensação. 

(Hanslick, I, p.7) 

 

  • 1 –Finalidade da música é provocar sentimentos.

  • 2- Sentimento como conteúdo da arte sonora.

As duas afirmações são falsas. 

 

Sensação é a percepção de uma determinada qualidade sensível: de um som, de uma cor. Sentimento é o tornar-se-consciente de uma incitação ou impedimento do nosso estado anímico, portanto de um bem-estar ou desprazer. 

(Hanslick. I. p.10) 

 

 

 

O órgão com que se acolhe o belo não é o sentimento, mas a fantasia, enquanto actividade do puro intuir. (Vischer, Aesth. §384). 

 

O belo tem em si o seu significado e limita-se a ser belo, nós temos uma visão que ultrapassa a necessidade ao sentir. Reconhece como instancia estética sua fantasia e não o sentimento que só ocupa do belo musical no segundo plano, de imediato somente com a fantasia. A reflexão estética se funda na fantasia. 

 

A peça sonora flui da fantasia do artista para a fantasia do ouvinte. Diante do Belo, a fantasia não é apenas um contemplar, mas um contemplar com entendimento. 

  (Hanslick.p.11) 

 

No segundo capítulo “Os sentimentos não são o conteúdo da música”, Hanslick desenvolve sua tese negativa colocando que a representação de um sentimento não reside na capacidade própria da arte dos sons e a fantasia apresentada a certa melodia bela, nada mais é a melodia do que ela mesma além do que, o que dá a impressão na música e parece pintar determinados estados de ânimos é simbólico. 

A especificidade dos sentidos não pode se separar de representações e de conceitos concretos que ficam fora do âmbito figurado da música da música e seus peculiaríssimos meios, pode representar de modo considerável um domínio das ideias. 

 

Não pode, pois, dizer-se de um acorde em si que representa um sentimento determinado, e menos ainda o faz na tessitura da obra de arte. Para lá da analogia do movimento e do simbolismo dos sons, a música não dispõe de nenhum outro meio para o suposto fim. 

  (Hanslick, p.25) 

 

A música instrumental é a arte dos sons pura no sentido de absoluta, e a união com a arte poética pode aumentar seu poder, mas os limites da música sempre serão os mesmos independente de ter poema e vocal que iluminam o desenho poema do modo que pode um medíocre pode ser interpretado de forma a ser entendido como uma revelação intima do coração. 

A música conecta com os sentidos através da movimentação. 

 

A música só pode imitar a aparência externa, mas nunca o sentir específico por ela provocado. Só posso pintar musicalmente a queda dos flocos de neve, o esvoaças das aves, o nascer do sol, produzindo impressões auditivas análogas pelo dinamismo a esses fenômenos  

  (Hanslick, p.31)  

 

ESPECIFICAMENTE MÚSICAL: 

Uma beleza independente que não carece de um conteúdo trazido de fora, estabelece unicamente nos sons e nas combinações, harmonizações e contraposições. O elemento originário da música é o som agradável a sua essência o ritmo inesgotável com movimento alternado de acordo com o tempo. 

Ideias musicais: Uma ideia materializada já é um belo autônomo, é fim em si mesmo. Os sentimentos são apenas meios ou material para representação 

 

O único e exclusivo conteúdo e objetcto da música são formas sonoras em movimento. 

(Hanslick, p.41) 

 

A música é a arte do tempo e pode proporcionar formas belas sem um conteúdo determinado. Os elementos musicais se conectam, criam afinidades chamadas eletivas e dominam o ritmo, melodia e harmonia. Toda arte tem por objetivo manifestar uma ideia que criou vida na fantasia do artista, conceito de imanência para transcendência. 

 

Cada elemento musical individual (ou seja, cada intervalo, timbre, acorde, ritmo...) possui sua própria fisionomia, o seu modo determinado de actuar. O artista é insondável, a obra de arte, explorável. 

(Hanslick, p.46) 

 

 

A impressão que uma melodia tem não é apenas algo enigmático que podemos apenas sentir e suspeitar, mas também consequência inerente de fatores musicais que atuam na combinação. Melodia e harmonia nascem juntos na cabeça do compositor e tem as mesmas possibilidades de desdobramento. Quem ouve introduz nos sons sentimentos e acontecimentos e ambos têm relações entre si, mas essa relação não é necessária, o que existe é a própria obra. 

 

Queremos por fim, adiantar-nos a um possível mal-entendido, fixando três aspectos do nosso conceito do “belo musical”. O “musicalmente belo”, no sentido específico por nós pressuposto, não se limita ao “clássico” nem encerra uma preferência por este relativamente ao “romântico”. Vale tanto para uma corrente como para outra, impera tanto em Bach como em Beethoven, em Mozart como em Schumann. Seja o que for que colora com matizes tão diversos a música desde mestres, proporcionaria uma indagação altamente frutuosa, que, no entanto, temos de reservar para um lugar mais apropriado, pois exige um desenvolvimento exaustivo dos conceitos “clássico” e “romântico”, bem como uma exposição histórica da diversidade do ideal musical. 

(Hanslick, p.53) 


É talvez mais prudente do que necessário acrescentar, por último, que a beleza musical nada tem a ver com o matemático. A concepção que os leigos (entre eles também escritores sensíveis) têm o papel que a matemática desempenha na composição musical é surpreendentemente vaga. 

(Hanslick,p.55) 


 

BIBLIOGRAFIA: 

HANSLICK, Eduard. Do belo musical, Lusosofia. Covilhã. 2011 

 

 

 

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA POPULAR DO BRASIL

A EDUCAÇÃO DO NEGRO NO BRASIL - FEAT MILTON SANTOS

MARX, ENGELS E A EDUCAÇÃO