O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO – Feat JEAN-PAUL SARTRE

 



  O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO – JEAN-PAUL SARTRE 

 

De qualquer forma, o que podemos dizer desde o princípio é que, por existencialismo, entendemos uma doutrina que torna a vida humana possível e que, por outro lado, declara que toda verdade e toda ação implicam um meio e uma subjetividade humana. A crítica essencial que nos é feita, sabemos, é que acentuamos o lado ruim da vida humana. 

(Sartre,2023, p.16) 

 

Toda tentativa que não se apoia na experiência comprovada é fadada ao fracasso, dizem que o existencialismo é sombrio e questionam mais o seu otimismo do que o pessimismo, o medo na verdade vem da possibilidade de escolha dado pela doutrina. 

Existem duas espécies de existencialistas: 

  • Cristãos (Jaspers e Gabriel Marcel) 

  • Ateus (Heidigger e Sartre) 

O que eles têm em comum é o fato de considerar que a existência precede a essência e que é preciso partir da subjetividade, a produção antecede a existência. 

 

Se o homem, na concepção do existencialismo, não é definível, é porque ele não é, inicialmente, nada. Ele apenas será aquilo que se tornar. Assim, não há natureza humana, pois não há um Deus para concebê-la. O homem é, não apenas como é concebido, mas como ele se quer, e como se concebe a partir da existência, como se quer a partir desse elã de existir, o homem nada é além do que ele se faz. 

  (Sartre, 2023, p.19) 

 

O ser humano é responsável por si mesmo, não de forma individual, mas sim por todos os “homens”. Cada um é responsável por suas próprias escolhas e ao escolher por si escolhe por todos, pois nada pode ser bom para nós sem ser bom para todos. A escolha envolve a humanidade inteira, no papel de legislador escolhe o que será para a humanidade inteira, é uma grande responsabilidade. 

 

E quando falarmos de desamparo, expressão cara a Heidegger, queremos dizer apenas que Deus não existe, e devemos assumir todas as consequências disso. O existencialista se opõe fortemente a um certo tipo de moral laica que pretende suprimir Deus pagando o menor preço possível. 

(Sartre, 2023, p.23) 

 

 

No final do século XIX, na construção da moral laica os professores franceses disseram que Deus é uma hipótese inútil e custosa e que devemos suprimi-la. É necessário que certos valores sejam considerados a priori, por exemplo ser honesto, não mentir, não bater na mulher, criar os filhos etc. 

 

Dostoievski escreverá: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. É este o ponto de partida do existencialismo. Com efeito tudo é permitido se Deus não existe, consequentemente, o homem encontra-se desamparado, pois não encontra nem dentro nem fora de si mesmo uma possibilidade de agarrar-se a algo. 

  (Sartre, 2023, p.24) 

 

O existencialista não acredita no poder da paixão, e não pensa que ela seja devastadora levando o ser humano a cometer certos atos. O “Homem” é portando responsável pela sua paixão e o existencialista não pensa que pode encontrar auxílio em algum sinal na terra que o oriente. 

 

Descartes dizia: “Ganha-se, antes, a si mesmo que ao mundo.”, queria dizer a mesma coisa: agir sem esperança. Os marxistas, com quem eu falei, me responderam:” Como sua ação será, evidentemente, limitada por sua morte, você pode contar com o apoio dos outros. Significa contar tanto com o que os outros farão em outros lugares, na China, na Rússia, para ajudá-lo, como também contar com o que eles irão fazer mais tarde, depois que você morrer, para retomar a ação e conduzi-la à sua realização, que será a revolução.  

  (Sartre, 2023, p.29) 

 

Mas eu não posso afirmar que ela conduzirá necessariamente a um triunfo do proletariado devo me limitar àquilo que que vejo; não posso ter por certo que camaradas de luta continuarão meu trabalho depois e minha morte para levá-lo a sua máxima perfeição, dado que esses homens são livres e amanhã eles decidirão livremente o que será o homem; amanhã, após minha morte, os homens podem decidir estabelecer o fascismo, e os demais podem ser frouxos e desamparados demais a ponto de deixar que assim façam; nesse momento, o fascismo será a verdade humana e, azar o nosso. 

  (Sartre, 2023, p.30) 

 

A doutrina existencialista é o contrário do quietismo que pensa que: “Outros podem fazer aquilo que eu não posso.” O ser humano não é nada mais que seu projeto e o conjunto de seus atos. Para o existencialista não existe outro amor do que o que se constrói, o que determina o herói deixar de ser herói ou o covarde deixar de ser covarde é seu engajamento total. 

 

 

(...) Não há doutrina mais otimista, pois ela coloca o destino do homem nele mesmo; também não pode ser considerado uma tentativa de desencorajar o homem a agir, já que afirma que não existe esperança senão em sua ação, e a única coisa que permite ao homem viver é o ato. 

  (Sartre, 2023, p.33) 

 

Portanto para que exista uma verdade é preciso uma absoluta, simples, fácil de atingir e está no alcance de todos. O outro é indispensável para minha existência e existe uma universalidade humana da condição, todo projeto mesmo individual, possui valor universal. O que o existencialismo quer mostrar é a relação entre o caráter absoluto do engajamento livre da unidade cultural que pode resultar de tal engajamento. 

 

A escolha é possível em um sentido, mas o que não é possível é não escolher. Eu sempre posso escolher, mas tenho que saber que se não escolho, isso também é uma escolha. Isto, embora pareça algo restritamente formal, tem sua grande importância para limitar a fantasia e o capricho. 

  (Sartre, 2023, p.36 e 37) 

 

Qualquer que seja a escolha deve assumir total responsabilidade, o homem se faz pois ainda não está completo, se faz escolhendo sua moral. A situação humana é uma escolha livre e todo ser humano que se esconde por trás dessas paixões e inventa um determinismo é “homem” de má fé. 

 

Significa simplesmente, que os atos dos homens de boa fé têm como última significaçãoa busca pela liberdade enquanto tal. Um homem que adere a determinado sindicato, comunista ou revolucionário, tem objetivos concretos; esses objetivos implicam uma vontade abstrata de liberdade; mas tal liberdade se quer no concreto. Nós queremos liberdade para a liberdade e através de cada circunstância particular. E, querendo a liberdade, descobrimos que ela depende inteiramente da liberdade dos outros, e que a liberdade dos outros depende da nossa. 

    (Sartre,2023, p.40) 

 

Temos que encarar as coisas como elas são. E, além disso, dizer que nós determinamos os valores não significa outra coisa senão que a vida não tem sentido, a priori. Antes de começarmos a viver, a vida, em si, não é nada, mas nos cabe dar-lhe sentido, e o valor da vida não é outra coisa senão este sentido que escolhemos. Com isso vocês percebem que existe a possibilidade de criarmos uma comunidade humana. 

(Sartre, 2023, p.42) 

 

BIBLIOGRAFIA: 

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Ed. Vozes de bolso. 2023. Petrópolis, Rio de Janeiro 

 

 

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